SOS História PR

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

EURIDES OVÍDIO PEREIRA


Homenagem ao pioneiro de Campo Mourão que faleceu em 29 /09/2014, às vésperas de completar 96 anos. Adormeceu o decano e arquivo vivo da história de Campo Mourão e da família Pereira, mas seus relatos não se perderam em ouvidos moucos. Ao Mestre Eurides Ovídio Pereira dedico carinhosamente o presente resgate histórico por tudo o que aprendi com ele.


Governador Bento Munhoz da Rocha Netto
recebe vereador Eurides, de gravata listrada.
E se Eurides seguisse com Camarguinho?
Um dia qualquer de 1925. Os adultos estavam na roça. Alguém apareceu na porteira. Um menino de sete anos escutou o pedido de um homem bem vestido:
- “Meu filho, você ouviu falar do Manoel Mendes de Camargo, o Camarguinho? Pois eu venho trazendo uma boiada de Mato Grosso. Me adiantei quatro ou cinco dias.  Eu estou com fome e meu burro está cansado. Eu queria que você desse um pouco de milho pra ele e fizesse uma comida pra mim”.
Apesar da pouca idade, Eurides Ovídio Pereira saiu-se bem. Esquentou o resto do almoço e fritou ovos e linguiça. O estranho matou a fome e alimentou o burro. A atitude do menino impressionou o forasteiro, que o convidou:
- Gostei muito de você. Quando teu pai chegar, diga a ele que Manoel Mendes de Camargo passou por aqui. Conte que você me atendeu muito bem. Se ele quiser me dar você pra eu criar, vou te educar como se fosse meu filho”. E o forasteiro seguiu em frente para pernoitar em Campo Mourão.

A história de Eurides não convenceu o pai, Pedro Ovídio Pereira. Imaginação de criança, claro! Dez dias depois um toque de berrante rompeu o sertão. A tropa atravessou o rio Paraná de balsa em Porto São José e pegou o picadão Boiadeira rumo a Campo Mourão. Todos pararam para ver a boiada, rumo a Pitanga, Guarapuava, com destino a Curitiba. Passaram bois a tarde inteira perto da casa de Eurides, na margem direita do rio Cachoeira. O menino achou a coisa mais linda. Mas será que Camarginho esqueceu-se dele?
Como na primeira vez, Manoel Mendes de Camargo cavalgava um burro saino e vestia terno preto de cassemira. Carregava um persuelo – dois bocós de couro sobre o animal. De um lado roupa, paçoca de carne e um cantil d’água e do outro dinheiro. Assim, cheio da gaita, ia de Curitiba até Mato Grosso comprar e trazer gado, com boiadeiros empreitados, descansando à noite em invernadas alugadas. Era um homem corajoso e despachado!

Eurides nasceu em 12 de outubro de 1918 em São João, perto do rio Papagaio, que deságua no rio da Várzea, próximo do Piquirivaí, patrimônio de Campo Mourão. Sua mãe, Maria Josefa de Campos, faleceu três meses depois. A vizinha Lídia, esposa de João Cafurna, ajudou a criar os filhos pequenos. Pedro Ovídio teve seis filhos (4 homens e 2 mulheres) com a primeira mulher. E sete com a segunda, Francelina Maria de Jesus (4 mulheres e 3 homens). De todos os irmãos, Eurides era mais chegado a Ismael e Otávio.
Pedro Ovídio Pereira faleceu em 1935, quando Eurides tinha apenas 16 anos. O jovem guardou os relatos do pai sobre os tempos de São Paulo, a vinda para o Paraná e o povoamento de Campo Mourão. 

2ª Guerra Mundial
Em 1940, Eurides casou-se com Eliziria Lemes Teodoro, que lhe deu nove filhos. O casal morou no Barreiro das Frutas, na fazenda da sogra de Eurides, Almira Lemes Teodoro. Dois anos depois, com 3.000 pés de café plantados e dois filhos, Eurides foi sorteado para cumprir serviço militar. Serviu no 5º Regimento de Cavalaria Divisionária, em Curitiba.

Documentos antigos de EuridesFoto:Dirceu Portugal
Em 1942, o agricultor apresentou-se no quartel de Guarapuava junto com 10 mil reservistas. Foram 105 dias de espera. Por ordem do presidente Getúlio Vargas, os casados há mais de dois anos foram liberados. Eurides viu os ônibus que levaram os praças para o Rio de Janeiro, onde embarcaram para a Itália, para lutar na 2ª Grande Guerra. Mas ele ficou na reserva tendo que responder às chamadas a cada 90 dias em Pitanga, após ter retomado o trabalho na agricultura. 

Em contato com o agrônomo e deputado federal Francisco Lacerda Werneck, que tinha uma fazenda após o rio da Várzea, resolveu entrar na política. O primeiro mandato do governador Moysés Lupion (1948-1951) deixou marcas no interior do Estado – grilagem de terras, expulsão de posseiros e muitas mortes cometidas por pistoleiros das companhias colonizadoras. O Departamento de Inspetoria de Terras em Campo Mourão cometeu injustiças.
Quando Bento Munhoz da Rocha Netto ganhou a eleição, em 1951, Eurides trocou o PSD de Lupion pelo PR, do novo governador. Werneck, que assumiu a Secretaria da Agricultura, convidou-o:
- Você me ajudou. Eu vou lançar você vereador aqui.
- Mas doutor, eu tenho pouca leitura...
- Eu quero um homem pra trabalhar, não pra falar bonito!

Com Bento Munhoz
         Em 1952, Eurides tornou-se suplente da Câmara Municipal de Campo Mourão. Na primeira sessão, assumiu a cadeira do sargento Silvino Lopes de Oliveira, também do PR, que se elegeu prefeito do recém-criado município de Peabiru. Eurides pediu interdição de glebas em conflitos, ajudou a regularizar as terras dos Inácio no Muquilão, que corriam perigo de perdê-las para grileiros, e defendeu os posseiros. Com essa missão, liderou uma comissão a Curitiba e foi recebido pelo governador Bento Munhoz da Rocha Netto (foto).
        O vereador teve forte atuação na área educacional. Criou projetos de revitalização de uma grande escola no Lar Paraná e construção da Escola Isolada Almira Lemes da Silva, no Barreiro das Frutas, que foi construída por Luiz Custódio Sobrinho. Até então crianças assistiam aulas na casa de Luiz Custódio, sendo sua esposa Ana Teodora Pereira a merendeira da turma.
        O nome da escola foi uma homenagem prestada à sogra Almira Lemes, por quem Eurides tinha grande estima. Ela conhecia como ninguém as origens das famílias Pereira e Custódio/Teodoro e seus os laços desde Minas Gerais e São Paulo. No tempo do namoro com a filha dela, Elizíria, o jovem Eurides passava horas seguidas ouvindo os relatos de Almira.
         
        Duas professoras também foram nomeadas por iniciativa de Eurides. O vereador mandou ampliar o antigo caminho para o norte do Paraná, do rio da Várzea até Jandaia do Sul. Com ajuda de um trator Caterpillar D7 e de um motorista vindos de Curitiba, foram ampliados caminhos e abertas estradas vicinais na zona rural. Foi Eurides também quem, em 1954, após a morte de Getúlio Vargas, sugeriu que a praça central recebesse o nome do ex-presidente. O vereador argumentou que o antigo nome, Dez de Outubro - emancipação do município, em 1947 - já fora dado ao clube social da cidade, e que o estadista merecia uma homenagem à sua altura.
            Para quem tinha pouca leitura, Eurides cumpriu um ótimo mandato como vereador. Com o retorno de Moysés Lupion ao governo do Estado, Eurides sofreu retaliações de adversários regionais do PSD, que chegaram até a mudar o nome de seu pai de uma rua da cidade.

Eliziria deu à luz a João Maria, Áurea, Jair, Maria Josefa, Inézia, Leony, Ezoel, Carmen e Edson, que cresceram, casaram, seguiram seus rumos e deram netos e bisnetos. Eliziria faleceu em dezembro de 1984 e Eurides casou-se de novo, com Lídia Maria Kuligoski Pereira, em 1988.
     
     Eurides virou referência histórica em Campo Mourão. Nas rodas de pioneiros, nas comemorações, lá estava o decano, sempre procurado pela imprensa, estudiosos e parentes para narrar a saga dos Pereira, como se formou o tronco da família e como ela cruzou com os Custódio, primeiro em Minas Gerais, depois em Ilha Grande e Santa Cruz do Rio Pardo, em São Paulo; a grande viagem para o Paraná e os primeiros tempos em Campo Mourão, a cruz de cedro que virou árvore na sepultura de Maria Silvério, a esposa de seu avô e primeira pessoa que faleceu em Campo Mourão. Afinal, foi o pai de Eurides,  Pedro Ovídio Pereira, quem, em 1903, do alto de uma árvore, avistou Campo Mourão e sinalizou para o avô, José Luiz Pereira, após um longo tempo de viagem desde São Paulo e incansável procura no sertão guarapuavano – seis anos desde a saída em 1897.

Eurides jamais esqueceu a infância no rio Cachoeira. As brincadeiras do primo João Pereira da Cruz com os irmãos Dorvalino, Ismael e Otávio na bica do monjolo. Seu pai gostava mesmo de modas paulistas e de bailes. Também cantava e fazia violas. A casa tinha salas de bailes. A do meio era para fandango, de assoalho firme para suportar o tranco. A paulistada cruzava a noite sapateando em ritmo cadenciado ao som dos instrumentos. Fandangavam até raiar o dia. Na cozinha, em dois fornos, cozinhava-se arroz com frango para matar a fome dos foliões.

Boas lembranças, tempos felizes!
Mas e se Eurides tivesse seguido em frente com Camarguinho, para estudar e viver em Curitiba, como teria sido a vida – pior ou melhor? Ninguém sabe a resposta, só Deus!

Texto extraído e adaptado do livro ainda não publicado “Água Fria”.

 Foto do acervo do historiador Jair Elias dos Santos Júnior.
(Governador Bento Munhoz, Eurides Ovídio Pereira é o de gravata listrada, entre José Carneiro Silvério Pereira (José Mineiro) e Ortulino Carneiro Silvério Pereira. No total, a comissão era formada por sete pessoas).







quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Uma serenata para Milton Luiz Pereira

“O homem põe e Deus dispõe”. Com esse adágio popular o ministro aposentado do STJ (Superior Tribunal da Justiça), Milton Luiz Pereira, explicava como, em janeiro de 1959 – quase noivo em Curitiba – foi parar em Campo Mourão para advogar, ganhar uns trocados e voltar aquele mesmo ano para fazer concurso para juiz, carreira que escolhera no segundo ano da faculdade, e acabou se fixando e se tornou prefeito da cidade nas eleições de novembro de 1963.

Foi uma eleição histórica. Milton Luiz Pereira derrotou o empresário Ivo Trombini, do PSD (Partido Social Democrático), o candidato da oligarquia agrária que dominava a política na região desde 1947 – quando o município conquistou sua emancipação – representada pelos fazendeiros, industriais madeireiros e pela poderosa Rádio Colmeia, que tinha entre os sócios-diretores Erwin Bonkowski e Aníbal Khury.

Milton Luiz Pereira foi convidado pelo governador Ney Braga para ser candidato a prefeito. O Partido Democrata Cristão estava no governo do Estado e precisava ganhar no interior. Foi o advogado Armando Queiroz quem o convenceu. Foi ele também quem o incentivou ficar em Campo Mourão. Sobre a candidatura, argumentou que Milton Luiz Pereira, pelo trabalho como advogado, desfrutava de bom conceito na cidade e não havia restrição ao seu nome. Armando revelou-se um estrategista. Elegeu-se em dois mandatos à Assembleia Legislativa do Paraná e presidiu a casa.

Doutor Milton, como era chamado, despontou como um fenômeno. Ele representou o novo. A população da região não suportava mais a velha política do PSD do ex-governador Moisés Lupyon, em duas gestões marcadas pela pistolagem e grilo de terras. Pistoleiros agiam impunemente a soldo das companhias colonizadoras de terras. Terras amansadas com suor, cultivadas e com benfeitorias, mudavam de donos em documentos forjados em Curitiba. Foi um tempo de muitos abusos. Esse cenário favoreceu Milton Luiz Pereira, que arrasou nas urnas.

Nem a presença do ex-presidente Juscelino Kubitschek no comício-gigante do PSD, nem os 50 bois abatidos para o churrasco adiantaram. Os eleitores foram conhecer JK, ver de perto o arrojado construtor de Brasília, o presidente Bossa Nova e degustar o churrasco. Mas votaram mesmo em Doutor Milton. O PSD e o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), tradicionais adversários, aliaram-se contra o inimigo comum. Saiu ainda um terceiro candidato, Miguel Balaba, do PSP (Partido Social Progressista, criado por Ademar de Barros), que teve poucos votos.

Assustado com tanta gente no comício, o advogado foi à luta. Passou a visitar casa por casa nos distritos e bairros rurais, ao contrário dos adversários que ficavam apenas nos comícios. A presença física do candidato, muitas vezes jantando na casa das famílias – o tradicional virado-de-feijão com torresmo e couve – desfez o boato de que Milton Luiz Pereira era um advogado grã-fino que não entrava na casa de pobres. Foi impressionante a mobilização a seu favor às vésperas da eleição. Lideranças de todos os cantos aderiram à campanha, conduzindo eleitores para votar, de jipes e até de charretes.

Entre as inovações de sua administração, Milton Luiz Pereira introduziu um sistema de consultas populares, que precedeu em muitos anos as atuais audiências públicas para a elaboração da LOA (Lei de Orçamento Anual) e LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), previstas na Constituição. Na época Campo Mourão também ganhou um concurso nacional, que destacou os municípios mais bem organizados do país. Como “Município Modelo”, atraiu empresas de fora e elevou sua auto-estima. O país tomou conhecimento da cidade e de seu prefeito.

O Volks Azul - O lance mais folclórico da administração de Doutor Milton, sem dúvida, aconteceu a oito meses do final do mandato, quanto pediu afastamento do cargo para assumir a carreira que tanto queria – juiz provisório em Curitiba. Agradecida, a população comprou um carro para o prefeito, porque ele não tinha. Mas esqueceu de por gasolina. Sem conseguir dirigir o Volks azul, os populares empurraram o carro até sua casa. Fotos antigas mostram o advogado, sua esposa Rizoleta Mary e a filha Gisele, dentro do Volks.

Era grande a estima dos mourãoenses pelo prefeito. O dinheiro que sobrou da lista de contribuintes para a compra do carro, foi usado para pagar as contas de Doutor Milton. Um sitiante viajou vários quilômetros para entregar-lhe seu modesto presente - uma galinha.

Quando Paulo Pimentel assumiu o governo do Estado, em 1966, convidou Milton Luiz Pereira para compor seu secretariado. O prefeito recusou. Argumentou que seu trabalho em Campo Mourão não estava concluído. Pimentel o intimou outras duas vezes, e ele respondeu que ainda faltavam executar as obras da rodoviária e da praça central, que precisava cumprir a obrigação assumida com o povo da cidade. E seguiu em frente.

Nasceu Milton Luiz Pereira em 9 de dezembro de 1932 em Itatinga, sudoeste paulista, mas desde cedo sua família mudou-se para o Paraná. Morou em Mandaguari e em Londrina. Após terminar o ginásio nessa cidade, mudou-se em 1951 para Curitiba. Fez o segundo grau no Colégio Estadual do Paraná, enquanto trabalhava como graxeiro na oficina de “seu Ítalo”. Serviu no CPOR e deu baixa como 2º tenente. Na época morava na Pensão Esplanada.

Já na Faculdade de Direito da UFPR, aproveitando seu dom de falar bem, trabalhou na Rádio Clube Paranaense (PRB2) até a formatura. Como repórter, transmitiu ao vivo muitos eventos. Conheceu vários políticos e entrevistou alguns, como o governador Bento Munhoz da Rocha Netto e o presidente Juscelino Kubitschek. Em 1958, durante a Semana de Estudos Jurídicos em Natal (RN), ganhou o concurso de oratória realizado pela União Nacional dos Estudantes. A oratória, ilustrada com os clássicos da literatura universal, seria uma marca da carreira de Milton Luiz Pereira.

Pela Voz do Brasil, ainda como prefeito de Campo Mourão, Doutor Milton soube de sua nomeação para juiz federal substituto da 2ª Vara Federal em Curitiba. A partir daí construiu uma carreira brilhante na magistratura, tornando-se respeitando no país. Em 1988 assumiu a presidência do Tribunal Federal de Recursos (TFR). Em 1992, ingressou no STJ, onde se aposentou em 2003. Em 7 de abril de 1999, no discurso em comemoração dos 10 anos do STJ, relacionou a obra Os Miseráveis, de Victor Hugo, aos “esfomeados e desvalidos da sociedade globalizada, satanizada pelo lucro, sem pátria e violadora de soberanias”. Demonstrou que não esquecera sua origem simples.

Em 2004 foi homenageado pelo STJ na sessão solene de 14 de maio. Ao agradecer, recordou Guimarães Rosa: “O real não está na saída, nem na chegada. Ele se dispõe para a gente no meio da travessia”. E acrescentou: “Convivendo com V. Exas., espero que a minha ‘travessia’ corresponda aos votos de minha chegada para que a minha saída possa ser pelo menos lembrada”. Suas palavras foram registradas na ata do tempo. Milton Luiz Pereira foi e será sempre lembrado.

O amor por Campo Mourão - Mas Doutor Milton nunca se esqueceu de Campo Mourão. Tinha em sua casa no bairro Água Verde, em Curitiba, quadros, fotografias e outras recordações e até mesmo um espaço para guardar essas coisas. Volta e meia recebia pesquisadores e amigos mourãoenses.

Quem o levou a Campo Mourão foi o amigo Nelson Teodoro, de tanto falar bem da cidade nos tempos da Pensão Esplanada. Mas a vida é engraçada! Nelson jamais imaginou que o amigo seria adversário político de sua família. Era então prefeito da cidade seu tio, Antonio Teodoro de Oliveira (PSD), que fez uma ótima administração – saneamento e asfalto – que contribuíram para a urbanização da cidade. Até o Paço Municipal, sede do poder Executivo, foi obra sua. Mas não conseguiu eleger Ivo Trombini. Portanto, o novo prefeito já pegou a máquina azeitada.

Outra pessoa importante na vida de Milton Luiz Pereira foi o empresário mourãoense Eduardo Portes Rocha, que conheceu nos tempos do CPOR. Ele cedeu espaço, mesa e máquina de escrever para o amigo começar a advogar em Campo Mourão. Todos os meses acontecia uma semana de sessões de júri na cidade, que era uma grande atração popular. Atuando na defesa dos réus, já nos primeiros julgamentos Doutor Milton ganhou notoriedade e o dinheiro que tanto precisava. Só voltou a Curitiba para pegar a noiva. Casaram-se no final daquele ano de 1959 em Campo Mourão.

Ex-alunos de Milton Luiz Pereira na Faculdade de Direito de Curitiba recordam que ele era rigoroso. “Quem estudasse Direito Penal com ele, aprendia mesmo! Mas quem ficasse para segunda época, não tinha a menor chance. Reprovava!” Também lecionava Direito Constitucional. E deu aulas em Campo Mourão, de Legislação Aplicada no curso Técnico de Contabilidade, e de Princípios de Direito, no Comércio.

Milton Luiz Pereira faleceu na madrugada de 16 de fevereiro de 2012, sete horas após sua esposa, no mesmo hospital e em decorrência de complicação da mesma doença – câncer no pulmão. Almas gêmeas na vida, na morte e na eternidade! Ele tinha 79 anos. Em Campo Mourão tiveram os filhos Gisele, Gislene e Celso de Tarso. Luciene e Marcos Vinicius nasceram em Curitiba.

A serenata- E agora, com a permissão do leitor, passo a usar a primeira pessoa do pronome pessoal. Como mourãoense e membro da família Pereira – que povoou Campo Mourão em 1903, e que não tem parentesco com Milton Luiz Pereira, embora as origens comuns levem a cidades próximas do interior paulista e ao sul de Minas – das boas lembranças que guardo de Doutor Milton, a mais bonita, sem dúvida, foi da noite de sua vitória na eleição. A UMES (União Mourãoense dos Estudantes Secundaristas) resolveu fazer uma serenata para o novo prefeito.

Lembro-me, como em um rápido flash, do momento em que pisávamos com cuidado o chão da entrada da casa dele para não fazer barulho. E de repente, os instrumentos da banda quebraram o silêncio. Eu tinha apenas 11 anos e acompanhava minhas irmãs, Kátia e Júlia, que participavam das atividades da UMES. Aliás, os estudantes deram uma grande contribuição à campanha de Dr. Milton, na propaganda e mobilização.

Em fevereiro do ano passado estive duas vezes na casa de Milton Luiz Pereira, entrevistando-o para um livro que estou escrevendo. Interessava-me, sobretudo, como um advogado novato – um desconhecido sem eira nem beira, como criticava a oposição – conseguira a façanha de desbancar a poderosa máquina do PSD, morando menos de cinco anos em Campo Mourão.
No final da segunda visita, enquanto ele abria o portão de sua casa para me liberar, perguntei-lhe se recordava de uma serenata feita pelos estudantes. E ele respondeu com firmeza:

- Claro que me lembro! Eu até abri a janela para recebê-los.

Então, disse-lhe que eu estava junto, criança ainda, mas nunca esqueci. Sempre tive vontade de contar-lhe pessoalmente essa passagem.
E naquela noite, no final da entrevista, na despedida, realizei meu desejo e voltei feliz para casa.


Fotografias:

1. O jovem radialista dos tempos da PRB2 (Rádio Clube Paranaense);
2. Ministro Milton Luiz Pereira – acervo do STJ;
3. Dr. Milton, a esposa Rizoleta Mary e a filha Gisele dentro do Volks. Acervo de Jair Elias dos Santos Júnior;
4. O candidato Dr. Milton, José Custódio de Oliveira, cabo eleitoral do Barreiro das Frutas e Rio da Várzea, e o candidato a vereador Zamir José Teixeira;
5. Estudantes presentes na posse no Cine Plaza: Kátia, Irajá, Júlia e Rosa Helena.
ereiro do ano passado estive duas vezes na casa de Milton Luiz Pereira, entrevistando-o para um livro que estou escrevendo. Interessava-me, sobretudo, como um advogado novato – um desconhecido sem eira nem beira, como criticava a oposição – conseguira a façanha de desbancar a poderosa máquina do PSD, morando menos de cinco anos em Campo Mourão.No final da segunda visita, enquanto ele abria o portão de sua casa para me liberar, perguntei-lhe se recordava de uma serenata feita pelos estudantes. E ele respondeu come lembro! Eu até abri a janela para recebê-los. o, disse-lhe que eu estava junto, criança ainda, mas nunca esqueci. Sempre tive vontade de contar-lhe pessoalmente essa passagem. E naquela noite, no final da entrevista, na despedida, realizei meu desejo e ***




Fotografias



Foto 1

Milton, o jovem locutor dos tempos da PRB2, Rádio Clube Paranaense.




Foto 2

Acervo do STJ (currículo dos ministros)




Foto 3

Dr. Milton, sua esposa Rizoleta Mary e a filha Gisele no Volks doado. Registro do acervo de Jair Elias dos Santos Júnior.




Foto 4:

Dr. Milton, José Custódio de Oliveira, cabo eleitoral do Barreiro das Frutas e Rio da Várzea, e o candidato a vereador Zamir José Teixeira.




Foto 5:

Estudantes na posse de Dr. Milton no Cine Plaza: Kátia, Irajá, Júlia e Rosa Helena .






quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Curitiba, 1978: as prisões políticas que sacudiram o país

Há 32 anos, em meados de março de 1978, o sequestro em condições até hoje obscuras da professora e jornalista Juracilda da Veiga, seguido das prisões políticas de 11 pessoas ligadas a atividades intelectuais, transformaram Curitiba no centro das atenções do país. Foram dias seguidos de tensão, mobilização da sociedade, pressões da Igreja e setores democráticos que não apenas garantiram a soltura daquelas pessoas, como transformaram a até então pacata capital das araucárias.

Rico em acontecimentos, em diversidade cultural e em contradições, o Brasil é também um país de memória curta. Contribui para isso uma realidade complexa e dinâmica que superpõe fatos com uma rapidez impressionante, ficando para trás muitas coisas sem a necessária reflexão. Por isso vale a pena reavivar a memória daqueles dias tumultuados. Principalmente porque, três décadas depois, esse e outros episódios relacionados ao ciclo recente da República militarizada não foram até hoje esclarecidos. E se não vierem à tona, correm o perigo de perder-se no limbo do tempo.

Aqueles eram os tempos da abertura, da política de descompressão iniciada com a distensão lenta e gradual, que enfrentaria sua primeira e grande prova com as greves dos metalúrgicos do ABC paulista ainda naquele ano. O presidente era o general Ernesto Geisel; o presidente do Congresso Nacional, o senador Petrônio Portela; e o ministro da Justiça, Armando Falcão. O secretário de Segurança do Estado do Paraná era o general Alcindo Pereira Gonçalves; o superintendente da Polícia Federal, João Vilaça. O governador do Estado era Jaime Canet Júnior e o prefeito, Saul Raiz.

Eram também os tempos das temíveis Veraneios azuis que prendiam lideranças estudantis, dos telefonemas anônimos e das cartas ameaçadoras do clandestino CCC – Comando de Caça aos Comunistas, da censura prévia aos jornais e revistas, das cassações de mandatos de parlamentares da oposição. E dos organismos de segurança cujas siglas inspiravam temor, como DOI-CODI, Deops, Dops; de perseguições a ativistas da Igreja, de controle sobre os diretórios estudantis, sindicatos, a produção cultural, e das prisões políticas em forma de arrastões, tipo Operação Marumbi, no Paraná, e Barriga Verde, em Santa Catarina. Mas eram também tempos de resistência ao autoritarismo, sob as mais variadas formas em todo o país.

Sequestro e prisões

No final da tarde de 17 de março, uma sexta-feira, a redação de “O Estado do Paraná” recebeu um telefonema que a deixaria agitada. O advogado Wagner D`Angelis, da Comissão Regional de Justiça e Paz (CRJP) da Cúria Metropolitana de Curitiba, comunicava o sequestro de Juracilda da Veiga, que estagiara naquele jornal e, na época, trabalhava como professora no colégio católico Cônego Camargo, no Bairro Alto, região norte de Curitiba.

Quando retornava do colégio, diante de crianças e populares, ela foi agarrada por três homens armados e jogada dentro de uma Veraneio azul com placa fria de São Paulo. A notícia foi rapidamente repassada aos demais jornais da cidade e às sucursais dos periódicos de fora.

Mas o dia seguinte reservaria mais surpresas. Nas primeiras horas da manhã daquele sábado, a Polícia Federal iniciava as prisões de pessoas ligadas às escolas em regime de cooperativas Oca e Oficina. À tarde, em nota oficial à imprensa, a PF, sem mencionar nomes e números de detidos, dava sua explicação para as prisões: (...) as escolas vinham doutrinando crianças dentro de princípios marxistas, desenvolvendo-lhes uma visão materialista e dialética do mundo, incutindo nelas a negação de valores como a religião, a família e a tradição histórica”.

Foram 11 os detidos, que permaneceram incomunicáveis por vários dias, com base no artigo 59 da Lei de Segurança Nacional: jornalistas Luis Alberto Manfredini e Walmor Marcelino; publicitários Reinoldo Atem e Sueli Atem; professor Léo Kessel, engenheiro Paulo de Albuquerque Sá Brito, o advogado Edésio Passos, além de sociólogos, pedagogos, funcionários e ex-funcionários do Ippuc e Ipardes.

Na época todos se perguntavam o que estava acontecendo. Pensava-se que uma devassa repressiva estava em curso no país. Mas o epicentro do furacão estava mesmo em Curitiba. Vejamos as razões.

Alguns dias antes o jornalista Luis Alberto Manfredini, da sucursal do Jornal do Brasil em Curitiba, entrevistara o tenente-coronel Tarcísio Nunes Ferreira, comandante do 13º Batalhão de Infantaria Blindado, em Ponta Grossa, região dos Campos Gerais, que criticara os rumos do movimento militar de 1964. Suas declarações repercutiram nos meios políticos e militares. Até então um oficial não havia feito um pronunciamento semelhante, que soou como um alerta aos colegas de caserna. Tarcísio perdeu o comando, foi detido e permaneceu em prisão domiciliar no quartel do 5º GAC (Grupo de Artilharia de Campanha), no bairro Boqueirão.

Portanto, logo que ocorreram as prisões, sem uma explicação palpável, muitas pessoas relacionaram imediatamente os fatos. Havia qualquer coisa não-identificada no ar, além da neblina curitibana. Boatos circularam pelas redações dos jornais de que seriam feitas novas prisões. A Curitiba conservadora e européia de então virara o centro das atenções do país. A cidade começava a mudar e jamais seria a mesma.

Mobilização

Com uma rapidez impressionante como nunca acontecera antes, a sociedade mobilizou-se cobrando esclarecimento e liberdade para Juracilda e os detidos. Representantes de diversos segmentos – professores, advogados, jornalistas, estudantes, políticos – com destacada presença de membros da Igreja, reuniram-se na Cúria Metropolitana de Curitiba em assembléia permanente. O clero local se sentiu atingido, e deu amplo, geral e irrestrito respaldo à mobilização.

A CRJP, juntamente com 34 outras organizações representativas da sociedade, distribuiu carta-aberta à população, manifestando preocupação com o “clima de terror e insegurança”. Exigiu imediata liberação dos presos, “o esclarecimento e a punição dos responsáveis pelo sequestro de Juracilda”, assim como “apuração de atos ilegais do clandestino Comando de Caça aos Comunistas”.

Nas missas celebradas domingo em todas as igrejas católicas de Curitiba, o documento foi lido. Os direitos humanos foram o tema da missa dominical transmitida ao vivo por um canal de TV. Nela, o então arcebispo Dom Pedro Fedalto comentou o conteúdo da carta-aberta e cobrou o aparecimento da professora e dos detidos. Colégios católicos ameaçaram paralisar as aulas em sinal de protesto, medida que poderia se estender às universidades Federal e Católica (hoje PUCPR) – onde estudava Juracilda. Manifestações semelhantes aconteceram em todos os cantos do país.

A repercussão dos acontecimentos trouxe a Curitiba a inglesa Patrícia Feeney, coordenadora do Departamento de Pesquisa Internacional para a América Latina da Anistia Internacional. Pronunciamentos foram feitos na Assembléia Legislativa do Estado e no Congresso Nacional, condenando as prisões e considerando-as um retrocesso no diálogo e na abertura. Quase 10.000 mil telegramas chegaram do exterior e de vários estados à sede da Superintendência da Polícia Federal, pedindo liberdade para os detidos. E o que já se esperava aconteceu: foram liberados aos poucos, não ficando ninguém no cárcere.

Juracilda só foi libertada uma semana depois, às 24 de sábado, nas proximidades de Registro. Tudo indica que os sequestradores estavam levando-a para fora do Estado, para São Paulo, e desistiram a caminho. Ela sofreu torturas, choques elétricos, ameaças e foi submetida a 10 interrogatórios em uma cela especial, sempre encapuzada para não reconhecer seus algozes.

Os sequestradores demonstraram conhecer detalhes da vida de Juracilda. Fizeram perguntas sobre pessoas de seu círculo de amigos e atividades. Inclusive, sobre os detidos pela PF. Procuraram estabelecer ligações entre sua militância estudantil e organizações clandestinas. Sabiam detalhes de sua participação no painel de jornalismo do ano anterior em Londrina. Tinham até mesmo um trabalho que ela fizera em sala de aula no curso de Comunicação Social da então Universidade Católica do Paraná (hoje PUCPR). Tudo isso ela relatou durante entrevista coletiva à imprensa na Cúria Metropolitana.

Linha dura e moderados

Hoje, distantes três décadas daqueles fatos, é possível analisá-los com mais clareza. Tudo indica que havia uma disputa entre os setores moderados e os da chamada linha dura do Exército. O pronunciamento do tenente-coronel Tarcísio Nunes fazia parte desse quadro, que assumiria contornos mais nítidos com a denominada Frente Nacional de Redemocratização, reunindo civis e militares em torno da candidatura do general Euler Bentes à presidência da República. Esse setor do Exército captou um pouco a necessidade de uma certa descompressão política. Sem uma válvula de escape, a panela poderia estourar.

Em contrapartida, os militares da linha dura acharam que não convinha abrir, e resolveram dar a resposta. Pinçaram algumas pessoas, aquelas que já tinha sido fichadas, conhecidas pela postura ideológica à esquerda, para compor um caso e, a partir dele, bloquear o processo. Contudo, o sequestro de Juracilda, que não estava nos planos, acabou complicando e o caso assumiu grandes repercussões. O próprio governador do Estado do Paraná na época, Jaime Canet Júnior, não fora comunicado da operação, segundo admitiu mais tarde. E o plano acabou dando com os burros n´água.

E os brutamontes da Veraneio azul, onde entram nessa história? Para entender essa questão é necessário retroceder um pouco mais no tempo. Após o caso Wladimir Herzog – jornalista encontrado morto nas dependências do DOI-CODI paulista, em 1975 – que alcançou grande repercussão, houve uma certa desativação dos aparelhos repressivos. Muitos daqueles elementos, com grande experiência em repressão, foram distribuídos para outros lugares do país, passando a compor núcleos. Curitiba, que sempre manteve uma tradição de conservadora e centro da direita, abrigou partes desses experts que logo entraram em ação.

As grandes prisões de Curitiba foram a última do país, que já começava a sentir os novos ares de mudanças. A linha dura do Exército ainda praticou várias ações terroristas nos anos seguintes. O frustrado atentado no Riocentro, na noite de 31 de abril de 1981, brecou o terrorismo da direita. Foi durante o show de comemoração do 1º de Maio – Dia do Trabalhador – com 20.000 pessoas. O objetivo era provocar pânico, várias mortes e atribuir o atentado à esquerda, para justificar prisões, atos arbitrários e um retrocesso nas conquistas democráticas. A farsa veio à tona como uma bomba. Essa tentativa desastrosa e desesperada de recorrer ao terror foi a última dos durões do regime militar.

O episódio de Curitiba constituiu o marco do início de certo estertor do regime militar, que se não ruiu naquele momento, com uma série de estocadas como as greves do ABC paulista que produziu uma onda grevista no país, a campanha da Anistia pelo retorno dos exilados e liberdade para os presos políticos, o processo desaguaria na fenomenal mobilização das Diretas Já, por eleição livre e democrática para escolha do presidente da República.


A garra da imprensa

Também pesou no curso dos acontecimentos o papel da imprensa curitibana, bem mais robusta do que hoje, tanto em número de profissionais como de periódicos: O Estado do Paraná, Gazeta do Povo, Diário do Paraná, Correio de Notícias, Tribuna do Paraná, Diário Popular, Voz do Paraná, além de sucursais do eixo Rio-São Paulo. Ela deu ampla cobertura, encarou e surpreendeu, no que foi seguida pelos grandes jornais do país. A revista Veja fez uma reportagem com chamada e foto de Juracilda na capa. Colunistas famosos condenaram as prisões, outros satirizaram as tais crianças marxistas.

O mundo mudou nessas três décadas. Vinte anos se foram desde a queda do Muro de Berlim, que colocou fim na “Guerra Fria”. O governo japonês pediu perdão pelo ataque aéreo à base americana Pearl Harbor (Havaí), dando início à 2ª Grande Guerra. O papa João Paulo II pediu perdão pelos erros cometidos pela Inquisição (Tribunal do Santo Ofício), que condenou várias pessoas à fogueira por heresia. Mas até hoje a tradicional instituição de ensino marista não veio a público explicar sua sórdida relação com o organismo paramilitar que teve acesso ao trabalho da aluna elaborado em sala de aula.

O tempo passou, mas o assunto não arrefeceu. Algumas iniciativas, ainda que tímidas, reacenderam a chama. O tema foi abordado por estudantes de Jornalismo da Universidade Positivo em 2005, na disciplina “Documentário em Telejornalismo”. E o jornalista, pesquisador e cineasta Valêncio Xavier produziu, em 1995, o vídeo-documentário “Os Onze de Curitiba”. Muito bom, para que esse triste episódio de uma época triste jamais caia no esquecimento! É parte da História de Curitiba, da História da luta pela liberdade, da História do Brasil.

Com o artigo acima Silvestre Duarte participou da III Mostra de Trabalhos Acadêmicos dos Servidores da Prefeitura de Curitiba, de 11 a 13 de novembro de 2009, organizada pelo IMAP – Instituto Municipal da Administração Pública. Palestrou sobre o tema, usando fotos do arquivo do jornal O Estado do Paraná, onde trabalhou e cobriu o caso. O jornalista resgata o episódio agora, no momento em que ele completa 32 anos, para que as novas gerações tomem conhecimento dos anos de chumbo de nosso país.

O artigo também foi publicado no portal Paraná-Online em 19/03/2010. Confira no atalho: http://www.parana-online.com.br/editoria/cidades/news/435150/?noticia=CURITIBA+1978+AS+PRISOES+POLITICAS+QUE+SACUDIRAM+O+PAIS?reference_id=cdc0fcf9bbcf1ce4f9e51babdbda920d09ecaf8f